sábado, 5 de novembro de 2011


Eu, minha codependência e os adictos da minha vida, por Dárlea Zacharias

Leia o artigo da autora do livro "Drogas: o árduo caminho de volta", Dárlea Zacharias. Obrigada querida Dárlea por compartilhar conosco a sua vivência!


Eu, minha codependência e os adictos da minha vida.
Por Dárlea Zacharias


Falar de como me sinto sendo uma adicta em recuperação e de que maneira me posiciono perante "meus adictos" não é difícil, venho aprendendo através dos 12 passos a construir a minha cerca, falando para eles: Eu te amo, mas não concordo com o seu comportamento sigo usando acertividade e colocando limites em minhas preocupações e meus comportamentos. A mudança deve partir em primeiro lugar de mim, o resto é consequencia.
Por toda minha vida, estabeleci uma relação de amor e ódio com eles, que me esgotou completamente emocionalmente.
A alternância de identidade dos mesmos, o poder de auto- sabotagem, o descontrole emocional que acabava me contagiando, a minha falta de habilidade em ser mais acertiva e menos permissiva, me impediam de tomar atitudes onde eu pudesse me colocar em primeiro plano naquelas relações.
Por vezes, olhá-los fixamente e pensar durante alguns instantes em sua partida, foi o que me deu forças para prosseguir. Pensar em como minha vida seria diferente e em como eu seria mais feliz sem te-los por perto era um pensamento egoísta, mas, era o muro de auto proteção, que me protegeria de ser alcançada por eles.
Sei que é estranho para quem nunca viveu um problema assim compreender tais pensamentos, mas, só quem passa ou passou, consegue entender a ténue linha da razão e da insanidade que toma conta de nossas mentes, quando somos de alguma forma, manipulados, usados, desmerecidos, desconsiderados, descartados , imobilizados e abusados afetivamente por eles.
É como um túnel, um vazio... A culpa é um eco que teima em gritar que fracassamos de todas e imagináveis maneiras. Uma voz que nos diz o quanto somos tolos em amá-los sem que eles sequer mereçam nosso amor e as nossas lágrimas. Porém, como exigir amor de uma pessoa que não consegue se amar? Se a pessoa usa droga ele não se ama, então como pode dar o que ele não tem para si mesmo?
A sensação de ser nada para eles, nos dilui. A certeza de sermos apenas, provedores de formas compulsivas de uso, nos paralisa e desespera.
Nos tornamos obcecados por sua melhora e adoecemos com eles, a cada dia um pouco mais.
Buscamos resolver seus problemas, quando na verdade não enxergamos a dimensão do nosso. Não conseguimos compreender que nossas vidas param juntamente com a dele .Temos medo do toque do telefone, da campanhinha,viramos refém do medo.
Não temos como ajudá-los, se eles assim não quiserem e isso é fato. E, isso nos destrói. Pois, se tivessemos o poder de controlá-los, saberíamos exatamente o que fazer, mas não temos este poder e isso nos paralisa.
Não conseguimos entender o motivo de tanta revolta e insanidade e a cada mentira e tentativa frustrada de ajudá-los, nos afundamos mais e mais na codependência ativa.
Sabemos no fundo de nossos corações, que amamos nossos adictos. Mas, precisamos permitir que eles cheguem a seus próprios fundo de poços. Não temos o poder de estancar o processo de desmoralização e degradação e agimos dominados pelo desespero e sofremos.
Lidar com a frustração e com o medo, é terrível. Sabemos que ele ou ela tem um potencial gigantesco, mas usam essas virtudes como arma mortal em sua adicção ativa e observar isso dói...
Como continuar a amá-los se eles tornara-se nossos apaixonantes arquiinimigos? É um paradoxo no mínimo contraditório.
Vivemos em uma montanha russa de emoções, que nos puxam para baixo em força centrifuga e esmagadora.
Eles matam nossos sonhos, nossa coragem, nossa força e nossa frágil auto-estima. Empobrecemos nossa mente e espírito; E, nosso físico já debilitado pede cama e isolamento. Quando entra em processo de crise depressiva, preferimos não encarar nossa realidade. Conviver com eles, é um desafio, um ciclo mortal que recomeça a cada bom dia. Ao ve-los temos um pressagio de uma nova armação da parte deles. A cada cruzada de olhar, parecemos prever todo o desenrolar do dia. Sabemos que estamos prestes a reviver o mesmo pesadelo de ontem. Nossa intuição nos diz que todo o processo de auto destruição está prestes a recomeçar. Enquanto os observamos desesperados, querendo mais uma dose, constatamos nossa impotência. Eles andam pela casa sem rumo, nervosos, pálidos, ansiosos, procurando maneiras e meios de usar. E, nos, como co- dependentes inveterados e obedientes a nossa doença, o acompanhamos e partilhamos de sua infinda agonia. Nos deparamos com este quadros e perguntamos mentalmente: O que será que vai acontecer agora? E, mais uma vez dominados por nossa doença aceitamos o torpe convite para compartilhar seus processos de agonia e destruição.
Em alguns em raros momentos, depois da euforia do uso, pedem colo, perdão e com partilham a sua dor e arrependimentos. Isso faz de nós responsáveis e cúmplices, nos remetendo a uma responsabilidade individual pela vida deles. Como se tivéssemos a obrigação de ajudá-los a qualquer preço e ficamos mais fracos, vulneráveis e impotentes. Então, a teia de ressentimentos e mágoas que começa a ser tecida envolvida pela auto piedade, nos envolve, impedindo uma iniciativa de libertação. Tolindo nossa capacidade de ação e decisão.
Se pudéssemos, trocaríamos de lugar com eles, apenas para não os vê-los sofrer. Estaríamos certos de que, em posições diferentes, reverteríamos o quadro de destruição e que saberíamos o que fazer...
Damos o nosso melhor para convencê-los de que o que vivem não é certo, não é bom. E, quando achamos em um ápice de auto- engano, que conseguimos persuadi-los, recomeça todo o ciclo mortal novamente. Recuperamos nossa esperança apenas para perde-la no momento seguinte. Nossas expectativas irreais nos esgotam mentalmente e emocionalmente. Perdemos até mesmo a capacidade de rezar... Nossas mentes não param de trabalhar tentando achar uma solução para tudo que estamos vivendo.
Precisamos nos render, somos impotentes perante eles. Não somos culpados por nos sentirmos assim. Mas, somos responsáveis em tentar mudar o que se passa dentro de nós, colocando ação para modificar aquelas coisas que podemos.
Não podemos nos impedir de pensar ou sentirmos dor diante da situação em que eles se encontram, mas podemos não agir em função desses pensamentos e sentimentos. Precisamos não ceder aos nossos instintos protetores.
Precisamos pensar em nós e tentarmos nos colocar em primeiro lugar naquela relação. Podemos abrir mão de remoer soluções irreais e começar a entregar a situação nas mãos de quem realmente pode resolve-la: Deus!
Substituimos ódio e amor doentio, por fé e entrega.
"Desligar-se emocionalmente não significa abandono, significa que não estamos mais lutando, estamos entregando."
Saimos da frente de Deus e o deixamos agir segundo a sua vontade. Não podemos passar pelos fundos de poços juntamente com nossos adictos. Eles mesmos tem que passar individualmente. Pode ser cruel, mas a derrota é um ingrediente necessário para o inicio da rendição e da admissão que se tem um problema e até mesmo para a chegada de um pedido de ajuda.
Enquanto a família for a "facilitadora" do uso, poderá estar matando seu adicto. Aprendemos a importância da palavra NÃO!
Não podemos mudar o outro, só podemos modificar a nós mesmos. Por mais que tentemos controlar o outro, sempre fracassaremos em nossas investidas. Devemos nos perguntar até que ponto esta esgotante jornada de controle valerá a pena? Devemos ser honestos conosco, e por um instante e questionarmos: Podemos controlar nossos adictos? Podemos lidar com eles sem nos descontrolarmos a todo instante? Podemos modificá-los? A resposta é bem simples e óbvia: Não podemos controlar nossas ações, impulsos, emoções e por fim, não podemos moldar o outro a nossa maneira. Podemos mudar somente a nós mesmos e admitir isso, já é um bom começo para inicialização da recuperação da co-dependência.
"Hoje, começo a entender que o amor não pode estar condicionado a nada.
Que amor e controle juntos, não é amor, mas sim doença.
Se eu não libertar, jamais me sentirei livre também."
Devo orar por sanidade e cuidar-me através dos princípios esprituais de honestidade, mente aberta e boa vontade, Para que minha mão possa estar estendida na hora certa em que o pedido de ajuda vier.
E, que o meu emocional ,mental e espiritual estejam sincronizados, na mesma sintonia, NADA MUDA SE EU NÃO MUDAR!
O melhor sempre está por vir.

Veja mais no blog da autora. 
http://soporhojenuncamais.blogspot.com/

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

AS CINCO FASES DA CO-DEPENDÊNCIA


As 5 Fases da Co-Dependencia, com a Palavra do Psicoterapeuta.


 É incrível o quanto a vida pode nos ensinar. Quanto mais vivemos
mais aprendemos. Não abstante muitos viverem a reclamar de suas
situações presentes, não há nenhuma pessoa, cuja saúde mental esteja
perfeita, que seja um candidato a morrer neste instante. Isso significa
que, apesar das dores, a vida é extremamente maravilhosa,
principalmente por ser ela a essência de Deus em nós.


 É exatamente esta essência que não queremos nem podemos perder,
pois é ela que nos dá o desejo de permanecermos aqui neste pequeno
lapso de tempo que nos é dado. Gwendolyn Brooks escreveu: “viva
intensamente cada instante. Logo ele se vai. E , seja dor ou riqueza, não
voltara outra vez em idêntico disfarce” Uma coisa porém não podemos
negar a vida é uma vida de dores, nascemos e vivemos sob o “signo” da
dor, as vezes muito mais de alma física, e se tem algo com o qual não
sabemos conviver é com a dor, sempre que a sentimos queremos nos
livrar Dela imediatamente, é a síndrome do “doril”, do alívio imediato,
mas quase sempre a dor tem um início, um ápice( quando a dor se
aprofunda intensamente ), para então chegar ao fim.


O relacionamento entre a família e o dependente é uma relação
extremamente dolorosa. A família sente as dores do fracasso, da
vergonha e do preconceito. Sente-se as vezes traída por quem eles
amarem intensamente, se sua parte o dependente sente as mesmas
dores. E ambos buscam um meio eficaz de fugir desta.


 A primeira fuga da família vem através da negação, ela tem certeza
que todos os filhos dos vizinhos tem problemas menos o seu, ( cuidadoas vezes o melhor jeito é conseguir um inimigo é dizendo aos pais que
seu filho esta com problemas de envolvimento com drogas); superada a
fase da negação e a realidade vindo à tona refugiam-se então no “circo”
do desespero, afinal eles poderiam imaginar tudo menos ter um filho
dependente de drogas. Na fase a tendência por parte da família é de
agressividade e muitas cobranças.


 A fase seguinte é a barganha. Tentam de tudo para mostrar ao filho
que são os melhores pais do mundo, oferecem normalmente o que
poderiam cumprir, como viagens (de preferência para outros estados ou
até mesmos fora do país), carro, dinheiro, mudam o filho de escola, etc.
Quando nada disso adianta e infelizmente é o que normalmente
acontece, vem então a terceira fase que é a da depressão. Uma angustia
muito profunda, muitas emoções negativas, uma fase que atinge em
cheio o dependente e pode causar certa descompensação levando o
adicto a pensar na possibilidade de tratamento ou o que é mais
provável levá-lo ainda mais para o fundo do poço.


 A ira pode se manifestar de duas maneiras. A primeira é que
podemos estar com muita raiva sem o saber. Os pais as vezes ficam
profundamente ressentidos com os filhos, mas disfarçam esse
ressentimento dando-lhes carinho excessivo e agindo com uma sensatez
disciplinada. Afirmação do tipo: “nós o amamos como você é”pode na
realidade esconder decepção e raiva.


 O outro aspecto é: como os pais acham que já fizeram tudo que lhes
era possível, partem então para liberar sua agressividade contra o
dependente químico. Lembro-me de um jovem de 19 anos que chegou
em nosso escritório para o Tratamento com vários pontos cirúrgicos na
cabeça, por ter levado uma pancada de seu pai com um pedaço de
caibro.


 Somente quando a família percebe que nada disso resolve é que vem a
ultima fase que é a da aceitação. Este é o momento do Tratamento para
o dependente e família. É quando conseguimos encarar o adicto como
doente e a dependência como uma doença e paremos de vê-los como
um delinqüente como também a nossa sociedade o vê. Entender sua
condição e necessidade de ajuda, para sair desta e, principalmente,
entender que ele entrou nessa, não por que a família é pior ou melhor,
mas sim, porque ele quis esta condição de adicto. De uma forma ou
outra foi ele quem procurou e isto por um motivo muito simples ele
também necessita de alivio para suas dores e foi na droga que ele
alcançou seu alvo. Numa sociedade adicta e de soluções prontas como a
que vivemos, a droga seja legal ou ilegal, será cada vez mais uma
necessidade de cada um de nós.


 É certo que Deus não se agrada com nosso sofrimento, nem quer
que vivemos a sofrer, mas desde que o ser humano entrou nessa
decadência; reafirmo, a vida tornou-se em dor e qualquer busca por
alivio imediato será apenas um paliativo às vezes perigoso e
inconseqüente. Mas não tenha dúvidas que sua dor está chegando ao
fim, pelo menos no que diz respeito à dor da dependência, basta você
saber fazer o adicto assumir suas responsabilidades e nós como família
aceitar a dependência como uma doença a as drogas como uma
ocorrência, infelizmente, normal em nossa sociedade atual. E, acima de
tudo, aprender a VIVER E DEIXAR VIVER.

terça-feira, 1 de novembro de 2011


O escritor Leon Tolstói escreveu:
"Todas as famílias que são felizes são iguais, mas cada família que é infeliz, o é a sua própria maneira".

Para tanto apresentamos as duas famílias: 

1-A FAMÍLIA DO DEPENDENTE ANTES OU NA DROGADICÇÃO

A sua estrutura familiar é a seguinte:
  • o segredo familiar em esconder o problema da dependência, a isso se isola e ainda não funciona direito.
  • com o agravamento do dependente, os filhos ficam órfão de pais vivos.
  • os co-dependentes são pessoas que amam demais o dependente.
  • os co-dependentes criam novos comportamentos e papeis, para diminuir ou aliviar a sua dor.
  • ocorre a generalização: a maioria dos familiares são atingidos pelo problema da dependência.
  • não há comunicação entre os co-dependentes, ninguém não diz os seus sentimentos para outra pessoa.
  • o certo e o errado é uma verdadeira confusão, usa-se muito os extremos (tipo: o dependente já está curado).
  • procuram mentir, quando o mais fácil seria dizer a verdade.
  • os co-dependentes se acham pessoas diferentes, pôr se acharem culpados.

2- A FAMÍLIA DO DEPENDENTE SÓBRIA - EM RECUPERAÇÃO

A família é calor mais respeito e mais disciplina, apontadas pelas características relacionadas:
  • reconhece, identifica e afirma os seus sentimentos,
  • ensina a ouvir atentamente e ativamente,
  • permite que todos cresçam cada um no seu espaço,
  • todos competem sem serem competitivos,
  • reconhece e apoia o trabalho de cada um, e opera com amor.


                     REFLEXÃO
“Procurou o homem, desde a mais remota antiguidade, 
encontrar um remédio que tivesse a propriedade de 
aliviar suas dores, serenar suas paixões, trazer-lhe 
alegria, livrá-lo de angústias, do medo ou que lhe desse 
o privilégio de prever o futuro, que lhe proporcionasse 
coragem, ânimo para enfrentar as tristezas e o vazio da 
vida.“      
                 Lauro Sollero
Vivendo Através do Outro

Controle, raiva, culpa, medo...sentimentos confusos e dolorosos caracterizam o transtorno comportamental desenvolvido por aqueles que convivem e se envolvem emocionalmente com os dependentes químicos. Na dança de compasso próprio, um não controla a substância nociva enquanto o outro abre mão de sua vida para controlar a vida do ente querido. No jogo de regras sutis, um é escravo da droga e outro da dor e do sofrimento. O amor adoecido do codependente contribui para o desenvolvimento da dependência. Mas, buscando a saúde para este amor, existem chances de salvar toda a família.

Tratamento da co-dependência: necessidade e possibilidade
Como a relação entre co-dependente e dependente é um “quebra-cabeça”, é fundamental perceber a importância do tratamento de ambos. No caso do co-dependente, o tratamento deve permitir que ele cuide de seus próprios traumas, de seus temores, de sua dependência de dependentes, de suas fragilidades.
“Ele precisa curar suas feridas, alterar seus comportamentos compulsivos. Precisa remodelar várias peças para mudar o jogo. Se o dependente se tratar e o co-dependente não, não vai mais haver encaixe nessa relação”...
Segundo  especialistas, o tratamento medicamentoso é importante e, muitas vezes, indispensável porque há compulsão, instabilidade de humor, ansiedade ou outros quadros associados.
Trabalhos complementares de terapia ocupacional, familiar, comportamental e psicodrama também podem ser associados.
Outra indicação segundo especialistas são os grupos de ajuda-mútua. “ Grupos como o Amor Exigente, Al-Anon, Mulheres que Amam Demais Anônimas (MADA), Coda (Co-dependentes Anônimos) e outros similares, todos fundamentados em bibliografia própria e os doze passos, podem ajudá-lo a descobrir-se e aprender novos modos de viver sem essa “droga”. Ali se descobrem controladores compulsivos e aprendem a viver, um dia de cada vez, a própria vida em primeiro plano”.
Um dos lemas dos grupos de ajuda mútua expressa uma condição ideal para o controle do transtorno. “Viva e deixe viver”. Essa seria a fórmula da felicidade neste quebra-cabeças? Cuidando de si e deixando a vida do dependente sob sua responsabilidade, o co-dependente estaria auxiliando o seu ente querido no processo de recuperação e também buscando o valor da sua vida que estava sendo perdida.